quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Especialista em Stephen King

Há alguma semanas no programa eu falei sobre o filme O Nevoeiro e comentei um pouco sobre a carreira do diretor Frank Darabont. Como não deu pra falar muito aquele dia eu escrevi este artigo sobre o diretor e logo depois uma crítica do filme.


O diretor Frank Darabont é um especialista em Stephen King. Seu primeiro filme lançado nos cinemas foi uma adaptação de um conto do novelista, Um Sonho de Liberdade (1994). Este foi indicado a sete estatuetas no Oscar, incluindo melhor filme, e é considerado o melhor filme de todos os tempos pelo site IMDB, o maior do mundo sobre a sétima arte. Apesar do sucesso já em sua primeira obra, Darabont demorou mais cinco anos para lançar seu segundo projeto, novamente uma adaptação de Stephen King, o que não é exatamente uma surpresa, já que o escritor é provavelmente um dos mais adaptados da história, com mais de uma centena de obras suas retratadas no cinema e na televisão.
À Espera de Um Milagre (1999) foi indicado a cinco estatuetas, incluindo novamente melhor filme, e é, assim como Um Sonho de Liberdade, uma representação extremamente fiel do texto do romancista, algo raro no cinema. Fiel a ponto de, a fim de narrar os enormes romances de King nas telas, que o próprio diretor faz questão de roteirizar, convencer os estúdios a deixar seus filmes com mais de duas horas de duração, algo ainda mais raro em se tratando de uma Hollywood cujo público não tem paciência para ficar sentado em frente a uma tela por tanto tempo. Além disso, seus filmes têm foco na narrativa: lenta e aproveitando bem os personagens, sempre interpretados pelos maiores atores do cinema americano - como Morgan Freeman, Tom Hanks, e Jim Carrey.
No entanto, como outra marca de Darabont se mostrou sua preguiça em apresentar projetos, seu terceiro drama só chegou aos cinemas três anos depois, em 2001. Porém, Cine Majestic não foi uma adaptação da obra de King, tampouco foi roteirizado pelo diretor, apesar de trazer a maior parte das características do cineasta, como a narrativa e a duração do filme. A fraca homenagem de Darabont ao cinema foi um fracasso de público e crítica, e como para Hollywood pouco importa o passado, e sim os números, demoraríamos quase sete anos para ver a próxima obra-prima de Frank Darabont.

O Nevoeiro

Lançado nos EUA em 2007, O Nevoeiro demorou quase um ano para chegar aos cinemas brasileiros, provavelmente por ser acima de um drama ou suspense psicológico, um filme de terror, e estes nunca são bem vistos pelos grandes produtores de Hollywood, ainda mais quando este conta com efeitos especiais e um elenco sem nenhum nome conhecido. Mesmo após sua estréia no Brasil, o filme praticamente saiu de cartaz um mês depois, motivado pelo baixo público. Com todas essas informações fica fácil deduzir que se trata de um péssimo filme, um daqueles thrillers repletos de sangue, mas sem nenhum cérebro.
É exatamente o oposto, O Nevoeiro é uma obra-de-arte inacreditável: ousada, inteligente e principalmente, perturbadora como poucas vezes no cinema. A história, é claro, é uma adaptação de um conto de Stephen King, como sempre, totalmente fiel até mesmo no seu desfecho, capaz de deixar qualquer um de boca aberta, tamanha a ousadia de Darabont.
A história toma foco em um grupo de moradores de uma pequena cidade do interior dos EUA que, no momento em que estão em um supermercado, se vêem sitiados por um nevoeiro que esconde estranhas criaturas. Essas diferentes pessoas, incluindo aí uma gama de ótimos personagens, desde o protagonista David (Thomas Jane, O Justiceiro) até a enlouquecida senhora Carmody (Marcia Gay Harden, vencedora do Oscar por Pollock), que crê estar presenciando o apocalipse da Bíblia e é motivo das melhores cenas do filme, proferindo sua fé àquele povo sem perspectiva. O mais interessante é que, apesar dos já mencionados efeitos especiais, o mais interessante está na reação dos personagens à medida que a possibilidade de sair do mercado com vida vai se tornando mais distante e a ameaça vinda do nevoeiro mais letal e presente. Até onde vai a mente humana em uma situação antes considerada impossível? É o que Frank Darabont questiona e responde tão belamente em um dos melhores filmes do gênero, que surpreende o espectador que se deixar levar pela opinião comum.
E para terminar, uma possibilidade capaz de deixar qualquer fã do “Mestre do Terror” em alvoroço: logo na primeira cena do filme, David, que trabalha fazendo pôsteres para Hollywood, aparece pintando um quadro do Pistoleiro, protagonista da série A Torre Negra, considerado “O Senhor dos Anéis de Stephen King”. Ver Darabont, este especialista em Stephen King, cogitando uma adaptação da obra, faz aumentar ainda mais a fé no diretor, sem precisar da ajuda de nenhuma fanática religiosa.

por Stefano Pfitscher

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